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domingo, 1 de novembro de 2009

algodão


É tudo sempre muito rápido. A gente grita o erro dos outros,
e traça o nosso próprio, quebra e rasga.
Mas ao rasgar o outro rasgamos nós mesmos, somos os outros,
somos o mundo inteiro.
Ninguém se perdoa e o silêncio chega ao ápice, é tudo tão mórbido
que nem se ouve um leve respirar. O silêncio também é a morte.
Enquanto isso o tempo atua como coveiro, desse cadáver doente
que embora não possa ser esquecido, deve ser enterrado
o mais fundo possível.
Eu sou o cadáver e minha revolta foi o meu mal.
Dias ensolarados não combinam com a solidão, a
noite vem chegando e não tem nada mais pra mim.
Novamente em milhões pedaços, olhando o horizonte de
milhões de ângulos, todos desesperados e aflitos,
cientes da distância perpétua.
Eu quero me jogar num campo de algodão,
permanecer até perder consciência do que
me anula.
Preciso ser resgatada desse mundo, mas quero numa
manhã de sol, pro meu dia mais feliz, ser também
o mais bonito e memorável. Uma cama de algodão,
uma libélula no chão prestes a voar e eu, antes
em pedaços, e agora anulando o feitiço que era
supostamente perpétuo, então eu digo:
estou me recompondo e também partindo daqui.

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