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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Quinta quieta bem longe daqui mesmo.

Diz. Quis. Fiz. Quebrou tudo e não disse nada.
Depois ficou parada, olhando o instante se
despedacar.
Depois disse não: Que não foi bom e tudo mais.
Nunca mais me deixou em paz.
Sempre a fez correr atrás, do vazio, do segundo perdido
e nem um pouco arrependido disse: Vá embora!
Ela foi. Não voltou por 700 dias. Desligou
o telefone, derrubou caramelo no tapete e
acenou pras nuvens negras que chegavam para
inundar a cidade. Falou com o espelho, mil vezes
se dando conselhos, mil e três vezes desobedecendo
todos eles.
Disse o que disse e fez o que todo mundo esperava,
engoliu choro e quase morreu engasgada com isso.
Foi assim que numa tarde de meio sol, meio nuvens
cinzentas, ela ouviu bem longe, algo que seria
imperceptível se ela não estivesse tão entediada como
agora: uma campainha, cujo som diferente a fez
imaginar toda uma história de amor.
Uma reconciliacão num dia desses não seria nada mal,
eles poderiam discutir enquanto haveriam trovões e
relâmpagos e se reconciliarem no anoitecer, quando o
céu estivesse arroxeado, rosado, azulado, todo degradê.
Nem noite, nem tarde. No limiar. Onde os lábios finalmente
poderiam se encontrar depois da chuva. Ou durante a chuva?
Agora a campainha tocou, em sua casa. Dessa vez, com ou sem
tédio ela iria escutar: ensurdecedora. Era como se a campainha
tivesse vida própria e fosse uma velha bruxa, ranzinza e
insistente. Não, não seria ninguem, ninguem para mim.
Alguém, mas é só isso.
Todo sonho se desvaneceu, provavelmente nada assim
estaria acontecendo, ou sim?
Inclinada para o pessimismo, acreditou fielmente no
desastre. Todas as campainhas eram insignificantes
e a tarde seria igualmente desgostosa, em todas
casas.
Irritada e até mesmo cansada, fechou os olhos,
sem atender a campainha, sem atender
as suas vontades, sem ao menos viver:
morreu ali mesmo, na beira da janela.

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