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domingo, 25 de julho de 2010

T.

Um dia, eu sabia que isso aconteceria e de qualquer forma me punia antecipadamente
com essa dor. Olho para traz e não a veja, nem sinal, nada.
Se eu soubesse que seria assim, que seria nessa semana, aliás, o que eu teria feito?
Já se perguntou alguma vez, ou quantas vezes? O que faria se soubesse que dentro de três dias uma desgraça de ocorreria? Não, você não vai perder sua vida, não esta que está aí dentro que te faz chacoalhar os ossos, mas uma parte da razão pela qual você sorri e segue adiante todas as manhãs, aquilo que nos dias chuvosos vem te encher de carinho e te fazer sentir especial. Alguém, algo, o que seja, sim, você irá perde-la dentro de três dias, e o que faria? Pois bem, eu não sabia o que estava por acontecer, talvez por isso não tenha feito nada, embora os pressentimentos já tivessem tomado conta de mim há muito tempo, sussurando as tragédias, relampiando no meu céu azul, traziam chuva, vendavais e lágrimas de orvalho pela manhã.
Mas eu absorveria seu cheiro, profundamente, encheria meus pulmões com ele, de forma que levaria uma eternadidade para meu corpo se desfazer de sua essência, eu te costuraria em mim, de modo que fizessemos parte do mesmo corpo, iamos cicatrizar juntas, e talvez eu evitasse sua doença com minha sanidade física, por enquanto.
Vamos, arranhe a minha janela para que eu a abra, venha compartilhar essa solidão comigo, que só preciso de alguém pra contar alguma desgraça. Isso me bastava e era tudo que eu pedia, seu silêncio e seu olhar cheio de sentido contido, a cada respiração.
Não tenho mais motivo para olhar para traz, de uma vez por todas. Não há mais nada no telhado, além da minha vontade de jazer lá em cima, até que eu te encontre novamente e você me leve para conhecer seu novo palácio.
Mas saiba, onde quer que você esteja, de qualquer maneira, sempre e sempre você será a dona da minha janela, onde irá repousar e dormir eternamente. E agora, eu lhe peço, ultrapasse as barreiras dessa realidade mórbida e contemple o que eu sempre sonhei enxergar, sendo um esquilo ou uma raposa.
Essas lembranças pertencem a você, você se despediu sutilmente, agradeço. Foram doze anos, foram longas histórias. Não precisa voltar pra me contar como é, não precisa ao menos me dar sinais, eu vou reaprender a sorrir sem você e aprender a aceitar a saudade como se fosse uma estação do ano, inevitável.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O vislumbre do nada

Antes de ler este texto feche os olhos, vislumbre um local inteiramente branco, embora não se possa enxergar nada nesse cenário além da imensa fila de humanos, um tinteiro, uma pena e um pergaminho se pode ouvir nitidamente o barulho do mar. Nossa personagem Mathilde está prestes a assinar sua morte, dentro de instantes ela deixará tudo que representa fisicamente e todas suas memórias, porém um fato a faz escrever nas entrelinhas do seu fim. Algo para ficar para sempre registrado, por mais que ela não possa mais ser encontrada no infinito.


Não vejo motivo aparente para desconsiderar meu óbito, estou aqui prestes a assinar o contrato que anula minha existência e não vejo um porque para desistir.
Antes disso traço uma breve história nas entrelinhas deste pergaminho malicioso, e vejo o último vestígio que tive de mim antes de me encontrar em tal situação, vou descrever e ser bem breve, afinal tem uma fila pendente de corpos prestes a se despirem de suas vidas, bem atrás de mim:
Era uma noite em que se caíram varias estrelas, por causa disso meu sorriso se iluminou seguidas vezes, diante dos abraços e beijos miraculosos que causavam singelas sensações de taquicardia dentro do meu frágil peito, nada parecia acabar e suas mãos gelavam como a morte que sinto roçar em meu pescoço agora, talvez por isso eu a queira tanto, pois ela me lembra teu toque naquela noite serena de brilho imperial. Tanto foi prometido, e tão nada cumprido, não tivemos tempo e eu não tive vida para tanto comprometimento, me fui antes que você pudesse decidir por qual caminho seguiríamos.
Me deixaste em casa e acreditaste que assim eu estava segura dentro desta concha submersa, neste planeta que eu criei, inventei pelo meu e egoísta bem, embora, possa ter certeza, isso nunca me levou muito longe, a não ser dentro dos perímetros do seu lar, docíssimo e caramelado lar.
Pois bem, mal acreditei que minha alma por si só já vivia ausente de mim, descontrolada sozinha ia para onde bem entendia, e eu? Essa é uma excelente pergunta e nesse instante que me desespero, te conto.
Penso que durmo, penso que faço zilhões de coisas e na verdade, onde estou? Afinal, não sei. Cá estava eu, assim, dormindo, tranqüila. Eis que num tempo desconhecido pelos ponteiros e todos relógios estilhaçados, este corpo que em poucos segundos se abandona, se levanta.
Sim, lá estava eu, andando pra lá e para cá. Mal pude acreditar que eu, alma, estava de lado, a pura essência ignorada e humilhada por ossos e músculos que iam se decompor em menos de um mês. Tudo bem, o que fazer quando já não se tem controle nem pra gritar: Pare, o que você esta fazendo? Vai acordar todos dessa casa!
Mas não. Continuou ali, procurando sabe lá o que, mas tudo bem, no final das contas esse corpo pelo qual eu de forma alguma quero me responsabilizar e que é conhecido por meu nome neste mundo, conseguiu acordar sua jóia mais preciosa, uns minutos mais tarde consegui tomar o controle da situação e envergonhadíssima comecei a pensar nas desculpas mais plausíveis pro acontecimento. Foi único, eu alma fugi do eu corpo poucas vezes, mas essa sem dúvida foi uma das mais memoráveis e engraçadas que eu fiz questão de relembrar e escrever aqui, no cantinho dessa folha que decreta meu fim, sei lá como, sei lá qual. A verdade é que nunca soube muitas coisas na vida, dessas que se fazem a total diferença, mas eu estive certas nos momentos mais importantes, como agora. Olho para traz e vislumbro todos que partirão comigo, somos donos nos nossos próprios barcos, sem nenhuma tripulação, perdidos num instante sem nome ou melhor, finalmente encontrados dentro dum universo muito maior e significante, dentro de nós mesmos.
Ri sozinha na fila, e diante de mim tinha um espelho, me lembrei de como era bom sorrir, e pensar que daqui uns segundos eu já não seria dona desses lábios e dentes.
Aliás, daqui um segundo todos desta fila poderiam ficar amontoados, uma transparência sobrepondo a outra e nada, exatamente nada apareceria diante de nós, não seriamos mais algo que pode-se ver e sim o que iríamos transmitir dali pra frente, em algum lugar, algum mar(...)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

C'est ça!

E toda manhã, ou quase toda eu penso na música do Chico Buarque, mudando o horário,
mas a conclusão é a mesma: Todo dia eu faco tudo sempre igual, me sacudo as 7 horas da manhã! - Enfim, é bem assim mesmo, o Frank que o diga.
Logo de manhã, desbravamos as neblinas e desviamos de imensos dinossauros a motor,
desde os carnívoros até os herbívoros de apenas duas rodas.
Isso é sempre. Ainda não arriscamos outro caminho, ainda, mas breve
com certeza tentaremos algo, quanto o tempo for esparso o suficiente pra isso,
afinal antes de tudo tenho o compromisso de apoiar o dedo e aperta-lo no
identificador de digital exatamente as 8:00 da manhã a não ser que eu morra
ou seja abduzida.
Depois disso divido as seis horas em duas de três, e assim vai e vai, durante o dia eu faco tantos comentários aleatórios e gostaria muito de escrever todos, como se fosse uma eterna narracão sobre eu mesma.
Quem disse que peixe não gosta de rede? Eu como pisciana adoro uma rede semântica, fazer eternas associacões ligar o mundo todo ao que faz sentido pra mim, ou mesmo aquilo que não faz muito sentido na prática, realidade, vida desumana, mas ao mesmo me faz raciocionar e unir várias coisas interessantes que desembocam num só mar. Tanto mar. Acredite, eu posso inundar vários textos, cheios das associacões, quem sabe não farão sentido, mas pra mim, o que importa é que elas nadam.
Bem, quando eu penso que encontrei algum tempo pra escrever algo mais demorado,
como se eu apreciasse um capuccino com alpino derretido no fundo, mas não, me sinto esmagada pela hora que a cada segundo me lembra que é um segundo a mais de sono sem um piscar de olhos diante dos números, sim, números infinitos.
Mas me diz: Você acha que estou reclamando? - Não diga que acha, pois isso pra mim
é na verdade maravilhoso, pelo único fato de ser a única vez que vou viver cada
instante desse, faco inclusive apologia a menos sono, mas ao mesmo tempo a mais sonho, e enquanto isso se contradiz aqui nos ponteiros do relógio, eu conto é as horas pro outro dia chegar e tudo comecar de novo e de novo. Boa noite.




Fato: Este texto é meramente pessoal. Mescla ilusão com percepcões diárias de quem
no momento, breve e único está com sono.

domingo, 11 de julho de 2010

Parachuva,paraline.

Só era mais um maço de papel que ia pro lixo, em vão e frustrado por não ter concluído seu único propósito pelo qual existia até o dado momento: ser lido.
Mas quando decidiu ligar sabia que de fato seria melhor, ela entenderia bem sua confusão, aquela que jamais poderia ser expressa naquelas dezenas de maços.
Matilda esperava a cada chamada, seu coração palpitava apreensiva com medo de não ser atendida. Mas sim, logo Allen atendeu e puderam iniciar toda uma discussão, um desabafo, ou sei lá o nome que isso poderia ter, e se mesmo iriam chegar a algum consenso ou atitude diante dos fatos que se desenrolavam e destruíam lentamente sua descolorida vida.
Algumas coisas não iam mudar nem com o passar de mil anos e por isso elas ainda se entendiam tão bem, mesmo quando o silêncio pairava por longos minutos, ainda assim Matilda se sentia imensamente acolhida, embora estivesse há muito tanto contemplando tamanha solidão, mas não naquele momento. Só me entenda assim, sem dizer nada, que eu sempre saberei que está é a forma concreta do entendimento. Feche os olhos para que possamos realmente ver, pois a cegueira humana é inútil diante das cores de dentro da nossa mente. Era só assim para se encontrarem já que eram milhas e milhas
separando a carne humana, de abraços e risadas que só as melhores amigas do mundo poderiam dar.


(...) continua