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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

sob a fuligem esta o azul imovel.

Dentro da incongruência, do sono, do ângulo agudo que
fura sua testa e acaba com o contexto correto, isso tudo aflige, acredite.
Aquelas palavras de profunda sabedoria me imobilizaram, imediatamente,
estava internamente rouca,muda na forma humana e com pensamentos
correntes.Sim.
Eu estava sentada diante de cadeiras azuis infinitas que mal
podia distinguir as que estavam longe demais, como se tivessem
deixado de ser cadeiras apenas por não estarem na mesma distância,
eram manchas, eram formas, bichos ferozes, imóveis a espreita
da oportunidade pra te atacar.
Esse fato me levou a um questionamento tão profundo que me
imaginei desfigurada, se vista muito de longe, sabe, irreconhecível,
a beira de qualquer interpretação fútil. Esse é o risco moral de se
viver na condição humana.
De qualquer forma, eu desconsiderei a possibilidade de tal
transformação das pobres cadeiras, claro, elas não falavam
muito, nem saiam muito do lugar, mas presenciaram o fogo daqueleu er
teatro de uma forma tão silenciosa, devido a isso prestei
respeito. Me silênciei diante daqueles vestígios e de toda
fuligem que ainda estavam nas frestas, nos becos.
Elas sim eram corajosas. E quem pensava nelas?
Na verdade eu comecei a pensar tanto que mal percebi que aqueles
malditos fios haviam tido novos problemas, e como numa briga de
casal ou numa reconciliacao sazonal, pegaram fogo.
Enquanto isso houve gritaria,pois fugiam, pulavam pelas cadeiras e as
chutavam, afinal agora, e somente agora era conveniente te-las
fora do caminho, tamanho egoismo humano.
O teatro estava inundado de chamas,de desespero, de cadeiras e
da composicao carnal e espiritual que tinha o meu nome, simples assim e
eu queria ficar ali com elas, numa sintonia perfeita de silencio
e calor. Esse calor eu nao tinha fazia tanto tempo que sentia
frio ao me olhar no espelho, mas na verdade eu fiquei era
pra entender o que se passava ou pra nao estar no mesmo
lugar dos outros.
Enquanto o teatro novamente pegava fogo, sem que eu pudesse fazer nada,
esperei no canto mais inacessivel, para que as chamas demorassem a
me alcancar. Sei que um dia tal segundo chegaria, seria longo,
mas entao sim, quem sabe eu fugiria tambem. Ou nao.
O pior mesmo nao era o que estava ali dentro, mas sim o que aguardava
la fora do teatro: pessoas. Naquela irracionalidade momentanea eu levantei
e sem perceber deixei cair meu caderno com anotacoes sobre todo
meu devaneio, me culpei para sempre e me surpreendi, ao abrir a porta
e encontrar todos caidos. Caminhei tranquila, nao fiz questao de olhar
para traz, a cada passo meu passado se desvanecia, mas as anotacoes que
inclusive nao revelei aqui ficaram fixadas dentro das cadeiras corajosas,
cobertas de fuligem, quem sabe um dia alguem que mereca le-las descubra meu esconderijo, minha perda proposital, pois naquela noite eu descobri um segredo, e talvez so quem seja corajoso e consiga compartilhar o silencio deva saber.



(...)

Obs: Nao sei se esse texto acabou, cada personagem e imortal a partir
do instante que nasce nas entrelinhas,mas depois de umas frases eles ja conseguem
transitar sozinhos e construir suas proprias historias, quem sabe se essa
personagem me contar da continuacao, eu relate novamente.