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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Peixe alucinado.

Sem inspiração, desejei três minutos de alguma música que eu gostasse.
Era tarde, era noite, tinha alguém aí, em volta muitos buscavam
me dizer coisas mas não deixei,não! Não pude conter
a esperança que assolava meus sonhos amargos de solidão,
eu sabia como resolver mas não agia de forma coerente
com as ideias, com as pistas jogadas no asfalto.
O chão podia se abrir, eu ia entrar na terra que logo
se fecharia, as mãos tremiam juntamente com
todo o corpo. É desconhecido e perturbador,
eu estava me livrando aos poucos daquilo
que eu não sabia ao certo como definir.
Eu sei o que não me pertence e certamente
não lutarei pelas sementes que derrubei no chão,
afinal foi tão sem querer que meu corpo mal
podia aceitar a incoerência dessa atitude.
Eu me espreguicei de maneira tão estranha,
convicta de que não era somente eu,
habitando mente e corpo de forma
tão inconstante.
Responda por mim, pois eu sei que há
tempo essa voz não é só minha.
Me senti desafiada e vilipendiada, não sei por quem,eu?
eu achava o máximo aquela situação:

Se buscando no espelho.
até me perder no reflexo,
onde eu pensei que iria me achar.
Não vi nada, vi você, vi o outro,
mas cadê eu mesma?! Estava andando
por ali, distraída com alguma coisa
que eu não entendi mas que busquei,
incessantemente.
Vocês me olham, sorriem com o canto
dos lábios que arroxeados mostram
o que as águas foram capazes de causar,
eu posso ver suas escamas mau feitas,
não são peixes, mas se tivessem se tornado
antes da morte, certamente iriam se salvar.
-Deus lhe salve da próxima vez! - Eu gritei
do fundo da rua que eu via pelo espelho
e certamente não atrás de mim,
essa rua que só existia do outro lado.
Essa rua não era minha, tampouco feita
de diamantes. Tire suas tripas pelos
olhos, vocês já estão cegos e delas não precisam, tire esse peso de pseudo-vida e me tragam
de volta, agradeço pela rapidez.
Vão louvar todo esforço inútil,
eu não sinto isso, eu posso ser tudo menos eu mesma.
Maldito dia em que dormi com o espelho desvirado,
pude ver os tentáculos, os risos e o espetáculo feito.
Pura libertação. As pernas se dividem em mil,
o corpo não pode mais resistir. Pena ou glória?
Devo me virar e sair andando, sem saber
como eu vou chegar, somente em mente,
aquilo que se mente mas se guarda como
segredo. Eminente olho de cristal. Pontual
cai na madrugada te ignoro e te amaldiçoo.
Em poucos dias o olho apodrece, enfim, volto a dormir.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Conflitos internos onde não há interior

Não me lembro ao certo do que imaginei ao ser engolida pelos lençóis de minha cama, a luz já estava apagada e então milhões de pensamentos me tumultuaram a mente, que aflita permitiu que todos se organizassem da maneira que julgassem conveniente.
Era a história de uma menina, a nomeie como quiser, certamente algumas pessoas possuem uma face parecida com a dela, ou não, mas hoje eu a chamo de Alena:
Alena corria desesperadamente em busca de algo que não se via, apenas se sentia ou se percebia palidamente nas dobras das páginas do dia-a-dia: seu sonho. Me lembro nitidamente de te-la visto sendo empurrada pelo seu sonho mais bonito, sem imaginar qual seria a explicação ou motivo, eis que ela caiu num abismo tão fundo, sem nem ao menos ter a chance de pensar: Que bom que nos encontramos! Antes tivesse apenas quebrado as costelas, ou morrido de forma que preservasse todo seu 'eu' dentro de si, porém caiu bem em cima de uma estalagmite que perfurou de fora a fora seu coração, logo seu sangue fluia incessantemente
pelo chão, ele que continha tanta vida e agora estava ali deslocado num território que não era seu, aquele chão frio e sujo. Agora ela estava livre do cárcere do corpo, verdadeiramente ela, sem dúvidas, sem face,
sem cor e sem limitações. Olhou para seu corpo, o definia como uma capa velha e apertada, da qual a muito tempo precisava se livrar, ele possuia cores tão bonitas, mas cores que não foram capazes nem por um segundo de garantir a felicidade do seu ser. Alena sempre acreditou que seu sangue era áspero e cinza, ao contrário do que via agora, vermelho e aveludado. Para ser tão infeliz, só podia correr algo igualmente triste pelas suas veias, mas não. Essa é a prova real de que as cores não dizem nada, não traduzem uma palavra se quer de nossos sentimentos e só servem para auxiliar o trabalho leviano do puro fingimento. Ela também acreditava que mais cedo ou mais tarde o que pulsava e a supostamente garantia vida, ia matá-la, aquele líquido áspero logo ia rasgar suas veias e apodrecer no limiar dos músculos com a pele. Tudo isso seria causado pelo único fato explicável: Sua alma se debatia violentamente por sua liberdade.
Alena observava seu corpo com atenção, sentindo imensa mágoa. De qualquer forma precisava fugir antes que seu sonho, agora pesadelo, a encontrasse. Por isso deslizou agilmente por entre as fendas do fundo do abismo, deixando para trás o que durante vinte e cinco anos chamou de "eu".
Era difícil tentar entender o que estava acontecendo, agora não havia uma estrutura para qual olhar,
estava ansiosa para encontrar um lago, um espelho, algo que permitisse com que visse seu reflexo, mas reflexo do que?! Aquela estrutura conhecida por todos já não existia, nem braços nem pernas sustentavam seu ser, ela estava invisível para o mundo dos mortais. Se sentia desprotegida. Enquanto andava pelas frestas pensava em assuntos como a felicidade, pronto, agora estava privada de um corpo mortal, estava livre e ao mesmo tempo aprisionada pelo medo de ser encontrava pelo seu pesadelo. O que ele faria?! Olhou para o alto e viu uma parte elevada, lá em cima havia uma pedra, imediatamente se lembrou de Sísifo. Quem sabe a contradição impere, se o seu sonho virou pesadelo, quem sabe aconteça o contrário agora, ou talvez a aplique um castigo eterno, como aquele recebido por Sísifo. Mas castigo pelo que?! Infelizmente não apreendeu as memórias do seu ,até alguns minutos atrás, corpo. Logo não sabia o que havia errado, pelo menos estava livre de qualquer lembrança anterior a isso tudo. A única coisa que lembrava era de sua queda, justo a pior lembrança, a do fim. Queria voar e qual seria a graça disso já que não tinha rosto para sentir o vento?! Era um nada pensante, um protesto mudo, uma essência sem sentido, não havia definição. Ficou parada. Alena fez o caminho de volta, não havia pra onde seguir, voltou pra perto da estalagmite, permaneceu ao lado de seu corpo onde havia uma tênue esperança de recuperar algumas lembranças, estava aflita por não ter sobre o que pensar. Observou a luz que emergia
do céu, tão distante. Sentiu a presença de algo, era seu pesadelo, ele estava exatamente do seu lado. Ela só podia senti-lo, se sentia observada por olhos invisíveis mas ele era tão real quanto ela, tão parte dela como qualquer outra coisa. Seu pesadelo também pensava:
Porém não havia o que fazer para causar qualquer mal em Alena, nada fazia sentido e a ausência de um corpo e até mesmo de um propósito, anulava qualquer possibilidade de atitude.
Todos se sentiam loucos, todas faces que Alena guardava. Seu pesadelo bem como seu sonho, era só mais um inquilino de seu corpo humano. Admita Alena, você já estava fragmentada antes de ser empurrada, não é mesmo? Se dividiu em sonhos, pesadelos, histórias e frases, espalhou seu conceito de liberdade nas paredes e em tudo o que pode exteriorizar, só não conseguia exteriorizar o principal, você mesma. Admita que era esse seu sonho e não seu pesadelo,não o faça se passar por mal diante dos olhos alheios, e admita também que o medo de encontra-lo te fez transforma-lo em algo temido. Alena consentiu, levitou até a parte superior do abismo, onde pode passear pela floresta. Traçou um caminho longo, tomou fôlego e se perguntou se ainda podia respirar: Respiro diante da eternidade e inspiro a cada passo partes do mistério que é existir no desconhecido.

domingo, 4 de abril de 2010

?

Nada é do jeito que eu traço nos papéis, nas folhas que encontro por aí,
aquelas que sobram nos cadernos, aquelas que ninguém se lembrou
de usar. Nada é uma palavra constante e inconstante, mostra o vazio
e nos faz lembrar do que esteve presente. Eu tenho tanto a dizer.
Eu não aceito, mas tenho que viver no meio do caos, o que eu crio
e o que eu vejo sendo criado pelos outros.
Eu vejo o mundo de forma desfigurada e errante, me incomoda
fatalmente, vivo nele infelizmente.
Minha cabeça se abriu nesse exato instante, tudo que estava
guardado em vez de se esvair, entrou em choque com a
realidade sórdida, esses pensamentos se embaraçam de medo,
de forma alguma querem aderir a isso. Eu não aguento, nem
eles, nem os mundos paralelos onde eles se enroscam de vez
em quando. Todo dia vejo isso, vivo isso. Não quero, não quero
estar presente no momento exato da vertigem.
Desfaleci no instante em que notei o erro, eu e nada mais.

Feixe Ferido

Não é a dúvida e sim a certeza, eterna campeã, fumaça, fantasma que ronda e rói.
Um feixe se abriu no escuro, outro feixe de luz, feixe de fumaça, feixe de certezas
que se alastrou e feriu.

sábado, 3 de abril de 2010

La rue et moi


Eu começo assim, no começo da rua, podia ser a metade pra qualquer
outra pessoa mas eu determino onde estou e que nome vai ter.
Fiz a releitura dos paralelepípidos por onde corremos,fugimos e andamos
diversas vezes,ora em passos rápidos, ora em passadas lentas e calmas.
Isso me trouxe à tona diversos pensamentos e cores vivas, apesar do
escuro da noite e de dentro de mim.
O percurso até a minha casa seria curto mas de certa forma seria longo,
essa é uma contradição admissível. Eu ia passar por lugares cheios de
histórias nas entrelinhas, a releitura continuava no asfalto e até minha
casa existiam muitos momentos grifados.
Eu os decorei de tal forma que agora esses versos fazem parte de mim,
ou seria eu deles?! Talvez tenhamos virado uma coisa só, e a releitura dos
lugares passa a ser a de mim mesma. Revivendo tudo, e bem na
esquina no ponto onde saio da rua escura para a claridade algo
prende a atenção, é , sem dúvida, o palco aonde eu deveria declamar.
Mas esta perto e também longe, não considerando a manhã que passou,
mas a noite que acabou de cair, num azul tão entorpecente que se
confunde com outros azuis aveludados, aqueles que as árvores parecem
adquirir no meio dessa escuridão parcial.
Continuo relendo, página por página de mim, num silêncio absoluto que
esses paralelepípidos e seus ruídos não podem perturbar, nem
fazer qualquer efeito.
No bolso um presente, numa embalagem dourada, estava prestes
a escrever outra frase nas linhas dessas ruas, mas vou deixar pra domingo.
Reluzia com as luzes dos postes. Eu visualizava as próximas páginas e
me aproximava de casa, já podia avistar o portão.
Eu sabia que a partir do momento que entrasse o tempo pararia, talvez
eu continuasse a folhear essas páginas mais tarde, pausamente, relendo
aqueles versos e até mesmo parágrafos inteiros. Quem sabe eu até
vivesse mais, pra poder reler depois e depois.
Quanto ao presente na embalagem dourada já posso vê-lo,
resplandecente e provavelmente grifado nas páginas que estão por vir.



Fim.