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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Coração Abajur [3]

Assim começa a saga da menina sem seu coração abajur,que lentamente se ajoelha ao lado de sua cama e a empurra com a pouca força que lhe resta, então como se fosse uma mágica um alçapão
surge, ela o levanta e entra. Mas não era mágica e sim uma artimanha de seu coração
abajur, que mesmo longe exercia uma influência enorme para que as coisas, por piores
que parecessem, dessem certo de alguma forma.
Confusa e apenas seguindo ordens invisíveis, ela se deparou numa sala muito bonita,
com carpete vermelho gritante, bem no meio dele havia uma escada em espiral e
nada mais, as pareces eram de madeira e no teto havia um lindíssimo lustre também
em espiral.
A menina estava com medo, então tirou um dos brincos que usava e o jogou, não
conseguiu ouvir o barulho dele chegando ao chão então deduziu que era uma escada
quase eterna, desanimada pensou que seria exatamente esse o tempo que ela
levaria até recupera-lo, mas começou a descer a escadar, afinal era a única opção
que havia naquela sala.
Algo que ela desconhecia era que ao começar a descer e não poder visualizar mais a sala,
esta como uma flor se fechou, as madeiras da parede se descolaram e se juntaram ao carpete,
e a escada ficou a pairar num céu estrelado. Nada mais existia em volta, e ela já não percebia
que agora fazia parte deste mundo em espiral também.
A menina descia, descia para uma luz, já não sentia medo, e borboletas surgiam por todos
os lados, inclusive pousando em seus cabelos, em seu pijama. Já não se sentia fraca.
Começaram a surgir janelas que pairavam numa escuridão sem fim. Janelas que mostravam diversos mundos paralelos. Em qual delas entrar?! Em qual delas procurar meu coração abajur?!
Ela se indagava, mas não havia nenhuma resposta dentro de sua mente, apenas o barulho do
vento, o ronronar de um gato e um assobio de um calau louco. Estava se sentindo vazia, e todas imagens e som interagiam com ela de uma forma única. Mas não era um vazio triste, era um vazio composto de diversas oportunidades.
Mal notou e pulou da escada em espiral, não iria entrar em nenhuma janela, não faria o óbvio,
o sensato ou aceitável. Logo viu seu brinco pairando no ar, sendo admirado por cinco borboletas amarelas, ela jamais ouviria o som dele, pois ali não havia limites, não haveria nunca um chão,
a não ser que você esperasse por um.
Então foi percebendo que algumas formas iam aparecendo ao redor, ela havia chegado em algum
lugar, haviam muitas pedras, muitas árvores e alguns templos gregos sendo reconstruídos.
Era tudo muito natural, e naturalmente ela não se sentia só. Cansada de cair, finalmente
chegou em algum lugar e o alívio que isso causou a fez sorrir para as ameixas.
Se por acaso seu coração estivesse por ali, enfeitando esse lugar já dotado de belezas inimagináveis, ela ficaria agradecida por ele ter fugido e a guiado para um lugar tão
bonito. Ficaria com ele por ali, até que ele sumisse de novo, para ela procurá-lo e sempre
se deparar com lugares melhores. A menina apesar da imensa alegria não sentia a presença
dele, o procurou incessantemente e nada...
Perto do templo destruído que ficava na parte plana, ela encontrou uma cachoeira e ficou
por ali, enquanto tentava assimilar tudo que havia acontecido pela manhã até chegar
naquela ilha desconhecida, devia ser uma ilha, ou não?! Jamais saberia.
Baco, o dono desta nova ilha no mundo em espiral, a observava, curioso e ao mesmo
tempo animado com a descoberta dessa garota.
Ele havia a conduzido para sua ilha, ao perceber que cansada e sob influência de qualquer força,
após ter saltado da escada em espiral,ela poderia ser levada como uma folha. Apaixonado,
desde então, precisava descobrir o "por quê" de tudo isso. Ele estava disposto a fazer
qualquer coisa por ela.
Ela escutou folhas sendo amassadas atras de si, e se virou, então viu Baco e tudo parou.
Longe, bem distante, o coração se acendeu e começou a bater muito forte, causando
o desmoronamento de mais da metade da casa subterrânea do duende, que apavorado correu
para perto do coração abajur, o único lugar aparentemente seguro. Estava decidido,
precisava se livrar desse objeto mas estava com medo de tocá-lo. Não entendia o porquê
da revolta de um objeto, ou talvez de sua felicidade, afinal ele estava radiante novamente,
porém mais letal que nunca.
Enquanto isso, a menina petrificada diante de Baco, que em pleno meio dia, reluzia
e com seus cachos amendoados se tornava ainda mais atraente, sua pele alva, seus
lábios levemente rosados e seus olhos azuis, alimentavam a imaginação da menina
para os mais doces devaneios. Num segundo momento sublime, ela sorriu.


(...)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Coração Abajur [2]

(...)

Mal pode acreditar ao notar que seu criado mudo estava vazio, sem luz,
sem seu coração abajur. Desesperada desmaiou, voltando para o mundo
paralelo onde pensava viver coisas boas.
Rapidamente retornou, com a visão ainda turva começou a entender
os traços de seu quarto escuro. Escuro até quando?!
Enquanto isso o duende estava adormecido depois de se deixar
levar pelos deliciosos instantes que o coração abajur lhe
proporcionava, aquela luz e a pulsação o acalmavam como
uma canção de ninar. Mas o coração abajur já não estava radiante
mas sim com um brilho doente e batidas barulhentas e atormentadas.
Com isso o duende acordou nervoso de seus pesadelos comumente
desagradáveis. Tão acostumado a desgraça, com um segundo de doçura
ficou mal acostumado, como se tivesse vivido sempre de sonhos
e pela primeira tivesse encontrado a tortura da miséria de seu subterrâneo.
No que havia transformado aquele belo objeto de sua afeição?! Teria se
adaptado? Ou apenas se revoltado com a ausência de... de algo que ele
não sabia mais o que era, nem se lembrava onde havia pegado aquele,
agora, incomodo pulsante.
Não sabendo o que fazer, pensou em simplesmente jogá-lo fora pois já
que não sabia como jogar a própria vida , jogava tudo que o atormentava
um pouco. Ao tentar se aproximar foi atirado longe, no meio de vários
abacaxi que cortaram sua dura pele, devido a intensidade da queda.
Aquelas mãos sujas jamais tocariam o coração abajur, e isso ele
pode evitar, indignando o duende que pensava que podia tudo.
Na diagonal, há milhares e milhares de lhamas de distâncias, a menina
de coração roubado sentiu seu coração fisga-la, como um peixe em movimento
que preso ao anzol permanece conectado até finalmente rasgar e se libertar
deixando um insignificante rastro de sangue. A menina começou
a andar em direção ao nada, fraca e com a mão no peito que há tempos
não emitia nenhum som. Apesar disso ela levava uma certeza com ela:
iria recuperar seu coração abajur!


Continua(...)

domingo, 3 de janeiro de 2010

Coração Abajur

As 15:57 da tarde com a porta meio aberta, a luz penetrando pelas frestas da janela.
As cortinas claras, rosas ou escuras balançavam de leve acompanhando as
batidas de luz de seu coração abajur. A tal adormecida o havia retirado após
deixar que fosse consumido por completo, nada restava em seu interior além
dessa estranha luz avermelhada e fluorescente.
Desde então durante todas noites ela realizava o mesmo ritual para que
este coração abajur não se resfriasse nem desistisse, por fim, de brilhar.
Era um consolo vê-lo no criado mudo da cama, uma companhia única
que possuia ao se perder em devaneios noturnos. Porém ele, um duende
de calças curtas amarelas, que segurava um abacaxi a observava pela
porta, aquela meio aberta do começo do texto e aí que tudo se complica
pois ele fascinado pela luz do coração abajur, olhou tristonho para seu
abacaxi: este me machuca a palma das mãos e não possui uma luz assim
portanto não o quero mais!
Se julgando muito esperto entrou no quarto na ponta de seus pés
imaginários, dotados de uma rapidez incontrolável e inalcançável
até então. Começou a passar a mão em volta do coração abajur ,
sem encostar, uns quatro centímetros de distância, parecia
estar massageando o ar que estava em volta, hipnotizado pelo
orgão que pulsava brilhante diante de si. Mas ao recobrar sua
consciência egoísta o pegou sem ao menos se importar com
o valor que lhe atribuiam, sem pensar na menina adormecida
e toda consequência disso.
Saiu do quarto num passo rápido, e este passo foi um mundo
e o mundo não era nada. Levou o coração abajur para além
da terra, passou por árvores em espirais infinitas,
casas, um mundo em espiral, onde quem não fosse atento
ficaria tonto rápido e seria persuadido a fazer qualquer
coisa que o destruisse.
Embaixo desse mundo morava o duende,um lugar sem luz,
com retratos de ratos pelas paredes, cadeiras de insetos
gigantes, copos de chapéus de seda bordados com calendários
do ano chinês. Haviam muitos abacaxis, por todos lados, um sofá
triste no lado esquerdo, perto de uma janela de pedra, pela qual
não se via nada, nem se podia sonhar com as estrelas.
Mas o que importava naquele cenário imundo além do coração abajur?
Enquanto houvesse graça, era isso que importava , enquanto
pulsava, enquanto houvesse luz. O que o duende não sabia era
que longe da tal dona, o coração abajur perderia sua luz,
afinal a alegria e contentamento dela o mantinha aceso
e pulsante. Enquanto isso, ele o colocou no alto de uma estante
a fim de iluminar todo o quarto sombrio e sem graça,
sentou numa poltrona de retalhos e ficou satisfeito observando.
Do outro lado dos mundos em espiral, acordava uma menina
num sobressalto, como se faltasse ar, talvez fosse um pesadelo
horrível, realmente seria, assim que ela desse conta de que
lhe haviam furtado o coração abajur.

(...) continua!