Páginas

domingo, 3 de janeiro de 2010

Coração Abajur

As 15:57 da tarde com a porta meio aberta, a luz penetrando pelas frestas da janela.
As cortinas claras, rosas ou escuras balançavam de leve acompanhando as
batidas de luz de seu coração abajur. A tal adormecida o havia retirado após
deixar que fosse consumido por completo, nada restava em seu interior além
dessa estranha luz avermelhada e fluorescente.
Desde então durante todas noites ela realizava o mesmo ritual para que
este coração abajur não se resfriasse nem desistisse, por fim, de brilhar.
Era um consolo vê-lo no criado mudo da cama, uma companhia única
que possuia ao se perder em devaneios noturnos. Porém ele, um duende
de calças curtas amarelas, que segurava um abacaxi a observava pela
porta, aquela meio aberta do começo do texto e aí que tudo se complica
pois ele fascinado pela luz do coração abajur, olhou tristonho para seu
abacaxi: este me machuca a palma das mãos e não possui uma luz assim
portanto não o quero mais!
Se julgando muito esperto entrou no quarto na ponta de seus pés
imaginários, dotados de uma rapidez incontrolável e inalcançável
até então. Começou a passar a mão em volta do coração abajur ,
sem encostar, uns quatro centímetros de distância, parecia
estar massageando o ar que estava em volta, hipnotizado pelo
orgão que pulsava brilhante diante de si. Mas ao recobrar sua
consciência egoísta o pegou sem ao menos se importar com
o valor que lhe atribuiam, sem pensar na menina adormecida
e toda consequência disso.
Saiu do quarto num passo rápido, e este passo foi um mundo
e o mundo não era nada. Levou o coração abajur para além
da terra, passou por árvores em espirais infinitas,
casas, um mundo em espiral, onde quem não fosse atento
ficaria tonto rápido e seria persuadido a fazer qualquer
coisa que o destruisse.
Embaixo desse mundo morava o duende,um lugar sem luz,
com retratos de ratos pelas paredes, cadeiras de insetos
gigantes, copos de chapéus de seda bordados com calendários
do ano chinês. Haviam muitos abacaxis, por todos lados, um sofá
triste no lado esquerdo, perto de uma janela de pedra, pela qual
não se via nada, nem se podia sonhar com as estrelas.
Mas o que importava naquele cenário imundo além do coração abajur?
Enquanto houvesse graça, era isso que importava , enquanto
pulsava, enquanto houvesse luz. O que o duende não sabia era
que longe da tal dona, o coração abajur perderia sua luz,
afinal a alegria e contentamento dela o mantinha aceso
e pulsante. Enquanto isso, ele o colocou no alto de uma estante
a fim de iluminar todo o quarto sombrio e sem graça,
sentou numa poltrona de retalhos e ficou satisfeito observando.
Do outro lado dos mundos em espiral, acordava uma menina
num sobressalto, como se faltasse ar, talvez fosse um pesadelo
horrível, realmente seria, assim que ela desse conta de que
lhe haviam furtado o coração abajur.

(...) continua!

Nenhum comentário:

Postar um comentário