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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Baldio

Não pude escapar e quando me dei conta já estava quase me afogando.
Da chuva não se foge, e por isso eu nem olhei pra trás afinal eu sabia
que flechas me atravessariam caso eu ousasse, sim, era uma ousadia
mas isso eu não entendia muito bem, não questionei nada, apenas
implorei para viver.
Durante esse percurso eu via os mesmos rostos, me assustei com
tanta precisão. Eu vivia num cubo, ao redor era branco e onde meus
olhos não viam, simplesmente não existia e a escassez de pessoas
desse cubo fazia com que elas trocassem de posição a todo momento:
o motorista de ônibus de agora, ali a diante era um pipoqueiro.
Me lançavam olhares intrigados, acho que agora eles sabem que eu
descobri que tudo isso é uma mentira, estavam assustados e vão
se comunicar com o chefe para fazer com que minha mente
vire nuvem novamente, pois quando começou a chover aqui,
muita coisa ficou clara.
A viagem foi longa e uma hora esperar se torna insuportável,
quero tanto colocar os pés no chão, mas quando a espera
me atormenta a minha vontade é afundar-me na terra
fofa do meu jardim extinguido e dar vida as flores de verão.
Tudo bem, pensar demais não alivia, mas que chegue meia-noite
pr'eu começar o meu dia, tenho motivos não muito sóbrios para
isso.
Você faz com que eu transforme todo meu bronze em
ouro, percebi isso depois de quarenta minutos de
perseguição, quando as flechas voltaram eu estava
próxima de minha casa, as nuvens escuras me diziam
pr'eu correr o mais rápido que eu pudesse,
me deixei levar e forcei a porta errada, não era
minha casa, nem a sua, não era de ninguem,
nem era mesmo de uma casa.
Veja bem, no meio de um terreno baldio
havia uma porta que não levava a lugar nenhum,
preciso de certezas para atravessa-la, era assim
que eu te via nesse exato momento.
Eu a abri, pude ver uma linda sala,então eu a fechei
e não pude ver mais nada, antes de entrar
quero acreditar que essa porta me pertence
como eu pertenço a ela.
Me recolhi e guardei meu eu-secreto numa
caixinha vermelha que eu nao sei como tinha nas
mãos, parecia bem segura, eu só não queria me expor
demais por isso tive que me esconder ali,
mas deixei um pouquinho de mim em mim,
pr'eu não ficar descaracterizada demais.
Meus pés começaram a ficar quentes, eu por
inteira fui tomada por um calor sem medida,
prestes a explodir em sorrisos quando recebi
um pensamento colorido do céu escurecido,
foi improvável!
Acordei assustada depois, mal percebi que cheguei e dormi,
de tão surreal que tudo me pareceu, mas tudo bem novamente,
cruzei os braços e pensei em te ligar, realmente liguei
porém ninguém atendeu, assim que ouvi sua voz
deixei uma mensagem:
Me espere na estação 77 assim que a chuva passar,
estarei segurando uma cesta de frutas pra sangria
surpresa que vou preparar, não esqueça de se levar
à meia noite...

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